Em tempos, houve quem acreditasse que o mundo iria mudar com a eleição de Barack Obama. E talvez ainda haja quem guarde a fé - mas são cada vez menos.
É que o mundo, como constatámos entretanto, não precisou de Obama para mudar. Talvez por isso, a bolha de entusiasmo começou notoriamente a diminuir. O candidato também não ajudou. Com a sua campanha habilidosa e esquiva, limitou-se a acrescentar mais uns gramas de incerteza à incerteza geral. Neste momento, ninguém sabe como vai estar o mundo no ano que vem, e também ninguém sabe que presidente poderá ser Obama.
Uma vez vencedor, Obama será obrigado a deixar de ser o que foi até agora: tudo para todos. Terá de escolher. Uma das suas opções é tornar-se naquilo que os seus inimigos dele esperam: com a ajuda de uma possível maioria democrata no Congresso e no Senado, um presidente determinado a alterar radicalmente a relação dos americanos com o Estado e com o resto do mundo. Seria a sorte grande dos conservadores, que poderiam então pendurar a recessão económica e o declínio do poder americano no cabide das novas políticas. Uma desastrosa retirada de Bagdade, depois das melhorias deste ano, seria a cereja em cima do bolo.Obama deixou de ser enérgico e messiânico, e passou a gerir friamente a sua vantagem nas sondagens, deixando McCain exaltar-se e parecer desesperado. Pode até ser o senador com o cadastro de votos mais à esquerda, mas soube compor a imagem do candidato democrata mais conservador dos últimos quarenta anos: patriota, devotado à família, e sobretudo religioso, como Kerry não foi em 2004. Irá, uma vez eleito, entregar-se aos esquerdismos da geração dos seus pais? Talvez não. Este é o homem que quer acabar a guerra no Iraque para fazer com mais força a do Afeganistão. Uma maioria legislativa democrata poderá significar democratas mais conservadores, eleitos em terreno republicano. Provavelmente, Obama há-de desiludir os crentes sem converter os cépticos, mas gerando ao mesmo tempo a maioria necessária para o reeleger em 2012.
Se não fosse a cor da pele, este jovem político eloquente e disposto a tudo para chegar ao topo já nos teria lembrado os nossos velhos conhecidos Clinton e Blair. Em 1997, também os conservadores ingleses tentaram fazer de Blair uma espécie de comunista disfarçado, enquanto os seus entusiastas ficaram a aguardar uma nova política exterior ("ética") e uma nova economia (de "Terceira Via"). O mundo já não é o que era em 1997. Mas o estilo de Obama é, no fundo, o desse tempo.
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