domingo, outubro 19, 2008

PARABÉNS ONDE ESTIVERES

Ser pai
é acima de tudo,não esperar recompensas.
Mas ficar feliz caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser pai é aprender errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.
Mas jamais falar no momento preciso.
É ter a coragem de ir adiante,tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho,
fazendo-se forte em nome dele
e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser pai é aprender a ser contestado
mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar.
É saber que experiência só adianta para quem a tem,
e só se tem vivendo.
Portanto, é aguentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários,
buscando protegê-los sem que percebam,
para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser pai é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.
Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia,
jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.

Ser pai é ser bom sem ser fraco.
É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição,
o seu lado fraco, desvalido e órfão.
Ser pai é aprender a ser ultrapassado,
mesmo lutando para se renovar.
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher,
ainda que não seja em vida.

Ser pai é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas quando chegam.
Ser pai é saber ir-se apagando à medida em que
mais nítido se faz na personalidade do filho,
sempre como influência, jamais como imposição.
É saber ser herói na infância,
exemplo na juventude
e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar, ajudar sem cobrar,
ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar,
amar sem receber.

Ser pai é saber receber raiva,
incompreensão, antagonismo,
atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos,
ódios passageiros, revolta, desilusão
e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender;
de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte,
mão que abre a gaiola, amor que não prende,
fundamento, enigma, pacificação.

Ser pai é atingir o máximo de angústia
no máximo de silêncio.
O máximo de convivência
no máximo de solidão.

É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.

poema retirado de um site de poemas brasileiro


Parabéns, onde estiveres
sei que me vês e me protejes.

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