O presidente do FC Porto, sr. Pinto da Costa, meteu vai para 2 anos uma indignada acção judicial contra o signatário, que se atreveu a escrever que o senhor ganhava cerca de 65 000 euros no clube. Isso a propósito de declarações suas nos tribunais, no âmbito do processo Apito Dourado, nas quais, indicara 400 euros como a sua remuneração no clube, o que me levou a titular a prosa em questão de “O Pinóquio”.
Por coincidência estranha, a sentença do juiz de instrução do Tribunal Criminal do Porto – uma notável peça jurídica sobre o direito à liberdade de expressão no confronto com outros direitos individuais -, a mandar arquivar a indignação do sr. Pinto da Costa, chegou-me às mãos no mesmo dia em que tive acesso ao Relatório e Contas da empresa Futebol Clube do Porto – Futebol SAD, 2007/2008. E não é que vem lá escarrapachado, preto no branco, que no período entre 1 de Julho de 2007 e 30 de Junho de 2008, o sr. Pinto da Costa levou para casa a módica quantia de 922 000 euros, ou seja 77 000 euros/mês (mais de 15 000 contos em moeda antiga). Dir-me-ão, com razão, que, afinal, o senhor tinha razão em se sentir ofendido comigo perante os meus modestos cálculos sobre a sua remuneração no FC Porto, já que entre os meus modestos 65 000 euros e os seus 77 000 vão para aí uns 12 000 euros! Mas este orçamento para a CMVM ler (foi lá que eu o fui buscar) faz ainda outras revelações sensacionais.
O conjunto dos cinco administradores da SAD do FC Porto, dos quais apenas quatro têm salários (além de Pinto da Costa, que recebe o dobro dos outros, Adelino Caldeira, Reinaldo Teles e Fernando Gomes), receberam durante o período em causa a escaldante soma de 2 276 632 euros (isso mesmo!), da qual se retiraram os já referidos 922 000 euros para o presidente Pinto da Costa e mais cerca de 455 000 (9 600 contos/mês) para cada um dos três felizardos e dedicados administradores da SAD portista.
Rapaziada bem paga. Mas as surpresas deste relatório não se ficam por aqui. Os devotos companheiros do sr. Pinto da Costa aprovaram uma norma para o (seu) futuro. Vão passar os quatro a levar para casa “uma compensação variável" (não em função dos resultados económicos ou financeiros da empresa), mas da performance desportiva da equipa principal do FC Porto”, com gratificações especiais entre um mínimo de 50% e de 120% (sic) sobre “o respectivo salário bruto anual. Um espanto. Quanto de sacrifício, empenhamento e dedicação à causa do FC Porto. Mercenários! E a CMVM, nada?
crónica de Rui Cartaxana (Record)
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