Lembro-me bem do seu olhar. Ele atravessa ainda a minha alma. Como um risco de fogo na noite. Lembro-me bem do seu olhar. (...) Deve haver ilhas lá para o sul das coisas onde sofrer seja uma coisa mais suave. Onde viver custe menos ao pensamento, e onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol e acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais nem no dia do mês ou da semana que é hoje. Abrigo no peito, como a um inimigo que temo ofender, um coração exageradamente espontâneo que sente tudo o que eu sonho como se fosse real, que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta. Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.
Álvaro de Campos
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