Tem semáforos verdes que estão sempre vermelhos. Tem amarelos intermitentes. Tem prostitutas de cara fechada no meio da rua, a tentar perceber se um carro abrandou ou se simplesmente circula devagar, como era o meu caso. Tem tudo, mas o que tem mais, sem dúvida, são aquelas mulheres todas iguais. Os olhares são desconfiados e os cigarros fumam-se sozinhos. As roupas fora de moda tentam esconder um corpo mal despido, enquanto se arrastam em passos mal medidos entre a esquina do cruzamento e a paragem de autocarros. De quando em vez uma desaparece nas sombras do parque mal iluminado, outra é levada durante meia-hora mal medida, para depois voltar com os olhos baços e o corpo da cor do dinheiro, sempre com o mesmo cheiro. Uma mistura de tabaco e pastilha de mentol, com o perfume mais barato da drogaria.
É assim que acaba o meu dia. Somos dois dentro do carro e a noite lá fora que esconde uma rua onde ninguém passa. Amanhã a história é outra, mas hoje ainda não acabou.
De: "Suspeito do Costume"
1 comentário:
Belo texto. E para quando o resto da história, os detalhes?
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