segunda-feira, setembro 10, 2007

HISTÓRIA INTERMINÁVEL

PJ acredita que Kate matou a filha
Madeleine poderá ter sido agredida. Mas também poderá ter morrido na sequência de um acidente, depois de ter sido sedada para dormir. É esta a convicção da Polícia Judiciária, que acredita ter sido Kate que matou Maddie, de forma acidental ou consciente. As certezas não existem, apenas indícios que apontam para a mãe da criança. Pelo seu comportamento, pela forma como agiu relativamente ao desaparecimento da filha, pelos odores a cadáver e vestígios forenses recolhidos pela polícia científica.
Kate apresentou-se na quinta-feira na Polícia Judiciária visivelmente descontrolada. Fontes policiais contactadas pelo CM dizem que teve várias vezes, ao longo das mais de 13 horas de interrogatório, reacções histéricas. E recusou responder a muitas perguntas. Não explicou o sangue encontrado no carro, não respondeu se esbofeteava a filha. E nem sequer confirmou com clareza se sedava as crianças.

Certezas para a PJ são apenas os factos. E esses revelam que era Kate quem habitualmente cuidava das crianças, as deitava regularmente, enquanto Gerry jogava ténis ou descansava na piscina. O depoimento da septuagenária inglesa (Pamela Fenn), que ocupava um apartamento no andar de cima ao utilizado pelos McCann, indicia também que Kate às vezes se tornava violenta. Descontrolava-se, sendo audíveis os gritos da menina a chamar pelo pai. Há outra testemunha, também inglesa, que refere o mesmo cenário. Kate parecia ter momentos de agressividade perante os filhos, sendo o pai, embora mais ausente, quem revelava maior controlo emocional.

Kate refutou todas estas suspeitas na Polícia Judiciária de Portimão onde foi interrogada e foi nesse quadro que lhe foi explicado o enquadramento penal do homicídio por negligência. Os investigadores, embora não a confrontassem directamente com uma possível agressão, lhe explicaram que ao não confessar o acidente poderia abrir portas para um quadro legal mais penoso.

O que significa que deixaria de se tratar de um homicídio negligente, para passar a um crime qualificado ou com dolo eventual.

PAI PEDE PROVAS À PJ

Gerry teve também um comportamento invulgar durante o interrogatório judicial. Confrontado com as suspeitas da PJ, o pai de Maddie pediu repetidas vezes que lhe fossem fornecidas provas. Não negou peremptoriamente os factos, mas tentou perceber se as autoridades tinham indícios suficientes para sustentarem a tese de homicídio.

Para a PJ há também uma outra situação estranha. Se se tratou de um acidente, por que é que os McCann se desfizeram do cadáver e simularam um rapto? A hipótese de esconderem algo mais do que um acto irreflectido está em cima da mesa e os investigadores esperam apenas esgotar todas as hipóteses para que eles expliquem a morte. Depois disso avançarão para a acusação formal de homicídio e ocultação de cadáver.

JUDICIÁRIA FAZ RELATÓRIO E PROPÕE BUSCAS AO PROCURADOR

Os próximos passos da investigação terão de ser decididos pelo Ministério Público. Quando recomeçam as buscas à procura do corpo de Maddie e quando voltarão a ser inquiridos os McCann que ontem de manhã regressaram ao seu país.

O responsável do departamento deverá sugerir os novos passos a tomar, designadamente que sejam retomadas as buscas, o mais precisas possível, para evitar a repetição da procura incessante de Maio e também da “correria” que marcou o caso Joana.

Ontem, na Polícia Judiciária, o ambiente era de desalento. Diversas fontes confirmaram o óbvio. Que a atitude dos McCann ao saírem do País estava coberta pela legalidade – o casal prestou Termo de Identidade e Residência na morada que possui em Inglaterra – mas que agora o processo corre sérios riscos de nunca mais ser resolvido. “A atitude é legal. Mas obviamente que vai complicar a investigação, porque temos de aguardar pelo cumprimento de formalidades legais”, porta-voz da PJ, Olegário de Sousa.

GNR À ESPERA PARA AVANÇAR

A GNR foi contactada na passada sexta-feira, para a partir de hoje estar disponível para avançar para buscas nos terrenos a sul do Ocean Club. No entanto, as mesmas ainda não estão marcadas, devendo ficar dependentes da decisão do Ministério Público. É provável, no entanto, que sejam retomadas nos próximos dias, mas partindo para locais concretos.

MINISTÉRIO PÚBLICO RECUOU

Na quinta-feira, quando a Polícia Judiciária optou pela inquirição a Kate, os investigadores admitiam constitui-la arguida e, caso ela não respondesse cabalmente aos indícios recolhidos pela investigação, imputar-lhe pelo menos as suspeitas de um crime de homicídio com dolo eventual. Só assim a mãe de Madeleine poderia ser presente a primeiro interrogatório judicial, de forma a que o juiz de instrução lhe aplicasse medidas de coacção, além do Termo de Identidade e Residência.

Durante o dia de quinta-feira tudo mudou. O procurador, que começou por admitir a detenção fora do flagrante delito, entendeu então só haver indícios de homicídio negligente e ocultação de cadáver, sendo que nenhum destes crimes admite a aplicação da prisão preventiva e inviabiliza a apresentação a juízo.

TRATAMENTO VIP PARA OS MCCANN

Kate aperta o casaco amarelo, solta o cinto à pressa e pega na filha. Corre para casa com um rosto fechado que já não aguenta as câmaras. É a imagem do dia, fotógrafos nos escadotes, câmaras em guindastes, dois helicópteros no ar logo ao final da manhã. Está cercada a ‘Orchard House’ e os polícias fardados à procura de ordem ao portão dos McCann.

AGITAÇÃO NA PRAIA DA LUZ

Antes disso, na Praia da Luz, a agitação era grande. Durante toda a madrugada, esperava-se que o casal McCann abandonasse o apartamento alugado na Rua das Flores para seguir viagem ao volante da Renault Scenic em direcção ao Aeroporto de Faro. Assim que os ponteiros marcaram as 6h00, a GNR ofereceu-lhes um tratamento VIP.

O acesso à vivenda Vista do Mar foi vedado pela GNR aos jornalistas e curiosos que ali aguardavam a saída dos mais recentes arguidos do caso Maddie. Eram 06h20 e ainda faltavam três horas para embarcarem no voo 6552 da Easyjet.

Quinze minutos depois, alguns familiares dos McCann arrumaram as malas no porta-bagagens do carro alugado onde a PJ encontrou vestígios de sangue. O n.º 27 da Rua das Flores estava prestes a ser abandonado e minutos depois chegou ao local um táxi: um Audi A3 que depressa iniciou as manobras de saída. O porta-voz, David Hughes chegou ao local para se juntar à família, depois de a colega Justine McGuiness ter garantido horas antes que o casal não deixaria o Algarve.

Às 07h05, Kate, Gerry, os assessores e familiares ocuparam as três viaturas e deixaram a aldeia de onde Maddie desapareceu no dia 3 de Maio. Seguidos pela comunicação social, chegam ao aeroporto quarenta minutos depois entrando pelo acesso VIP, usualmente utilizado por embaixadores e diplomatas. A prometida declaração não foi feita e os McCann deixaram Portugal às 09h45 sem passarem pelo check-in.

DISCRIÇÃO NA PREPARAÇÃO DE VIAGEM

Ao longo do dia de sexta-feira, Kate e Gerry e seus familiares permaneceram dentro de casa, sem levantar suspeitas de que se estavam a preparar para ir embora na madrugada seguinte. Sem alarido passaram a ideia que estavam apenas recolhidos

JUSTICE MCGUINESS MENTIU À DESCARADA

Ao início da manhã de sexta-feira, Justice McGuiness afirmou desconhecer quando os McCann iam viajar. Afinal os lugares no vôo estavam marcados há mais de uma semana.

"CLARO QUE EM PORTUGAL HÁ QUEM PENSE QUE FUGIRAM"

Não era a imagem que queriam deixar mas foi a que ficou. “Claro que em Portugal há quem pense que eles fugiram”, reconhece o tio de Kate. Mas “só o fizeram pelos dois gémeos”, quatro meses depois do crime, na semana em que passam a suspeitos de matar e esconder o corpo da filha.

E se forem chamados de volta, “logo se vê”. Certo é que “eles estão felizes e é óptimo tê-los de volta” a Rothley, diz Brian Kennedy. Só não voltam os cinco, como queria a mãe há uma semana. Mas, “ao que se sabe, as buscas por Madeleine continuam”.

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