Controladores aéreos portugueses a trabalhar na ilha açoriana de Santa Maria interceptaram "comunicações terrestres" onde se falava num "presumível ataque terrorista" contra a Torre Eiffel, em Paris.
Fonte governamental disse ontem que a informação foi detectada na madrugada de quinta-feira e deverá ter tido origem em radio amadores. "Não foram comunicações aéreas", assegurou, a estar na origem do alerta enviado às autoridades francesas e noticiado ontem pelo jornal Le Monde. A informação, ouvida em inglês e francês, foi transmitida ao Instituto Nacional de Aviação Civil, que a reencaminhou para a Polícia Judiciária. Foi a PJ, a contactar com as autoridades francesas.
O teor da intercepção, apesar de ser "vago e confuso", alarmou a polícia francesa, que se mantém há meses no nível de alerta mais elevado, o vermelho. Desconhece-se ainda o emissor de onda curta. A França foi claramente citada como alvo em Novembro, ao ser difundida a mais recente mensagem do número dois da Al-Qaeda, Ayman Al-Zawahiri. Mas tem havido outras referências à França como alvo, além de um caso concreto.
No final do mês passado, quatro turistas franceses foram abatidos na Mauritânia por elementos ligados à rede terrorista. O caso teve ontem desenvolvimentos, pois os suspeitos do crime foram capturados em Bissau. Estas ameaças levaram à suspensão do rali Dakar 2008, que deveria ter começado em Lisboa, na semana passada. A prova é a mais importante da temporada de ralis, mas também um poderoso símbolo da França. As autoridades francesas disseram na altura que dispunham de mensagens concretas dando conta da intenção dos terroristas de raptar concorrentes, durante as etapas na Mauritânia.
A contra-espionagem francesa dispõe de informações que circulam em sites de internet ligados a grupos islamitas, nomeadamente à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQM), organização argelina que entretanto se espalhou por diversos países do Norte de África. O objectivo declarado do ataque é provocar uma "crise económica" em França e "derrubar" o Presidente Nicolas Sarkozy. A ameaça específica sobre a Torre Eiffel, que surge nesta mensagem interceptada em Santa Maria, causou alarme talvez devido a um precedente. Em 1994, um grupo ligado aos fundamentalistas argelinos do Grupo Islâmico Armado (GIA), de onde saiu a dissidência que originou o AQM, desviou um avião para o usar como míssil contra o símbolo de Paris. A polícia francesa soube dos planos e recapturou o aparelho, durante uma paragem de abastecimento em Marselha. Mas a ideia foi utilizada no 11 de Setembro, sete anos mais tarde. Segundo noticiava ontem o Le Figaro, a polícia francesa enviou agentes para vários países do Norte de África.
LUÍS NAVES e MANUEL CARLOS FREIRE
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