terça-feira, junho 16, 2009

O ÚLTIMO ABRAÇO...

O fogo invadiu o quarto, cercou por completo a cama de casal e envolveu as três crianças – que acordaram mas apenas tiveram tempo de se abraçar antes de morrerem queimadas. Diogo, 12 anos, Tiago, seis anos, e o pequeno Afonso, com apenas dois anos, dormiam juntos num prédio devoluto no Pinhal Novo, Palmela, à guarda da irmã mais velha, que se salvou com o namorado. Os três irmãos “ainda gritaram”, segundo o namorado de Juliana, toxicodependente, mas a ajuda não chegou. Quando os bombeiros chegaram ao local os corpos das três crianças estavam carbonizados na cama – num último abraço.

Na casa, habitação degradada que já foi um ginásio, na rua Sacadura Cabral, estavam na madrugada de ontem três pessoas adultas: Juliana, irmã mais velha, de 21 anos, o namorado toxicodependente, Nuno César, 35 anos, e o amigo Jaime, cerca de 50 anos, que saiu da prisão recentemente por tráfico de droga. O casal ocupava a casa há três anos.

O incêndio deflagrou no rés-do--chão, cerca das 06h40, e Nuno saiu a correr, pelo telhado, para pedir ajuda a um amigo: “Chegou a minha casa a dizer que a casa estava a arder e que estavam lá as crianças. Só lhe respondi: ‘E que queres que faça? Devias ter tirado de lá os meninos. Já devem estar mortos’. Infelizmente tinha razão”. “Não sei o que se passou ontem, mas a verdade é que o Nuno cheirava muito a álcool”, acrescenta.

Por sua vez, Juliana e Jaime fugiram para o telhado, de onde não conseguiram sair até serem resgatados pelos Bombeiros do Pinhal Novo. Não explicaram as causas do incêndio – e nem souberam especificar onde estavam as vítimas.

O amigo de Nuno César recorda Diogo, Tiago e Afonso como crianças “rebeldes, mas educadas e muito doces. Eram lindos”. Viviam em casa da mãe, em Foros de Salvaterra, Benavente, e foram passar as festas do Pinhal Novo com a irmã mais velha. “Os meninos vieram a casa da irmã, mas já iam embora comigo. Soube de manhã da morte dos meus filhos e nem queria acreditar que eram eles que tinham morrido no incêndio. Só acreditei quando cá cheguei”, diz Florinda Alves, a quem a Segurança Social tirou ontem a guarda de outros dois filhos menores.

Segundo os moradores, Juliana convivia bastante com a mãe, apesar de esta viver em Benavente. Ontem de manhã, os amigos da jovem não perdoavam a atitude de ter fugido para o telhado sem ajudar os irmãos. “Ela devia ter ido ter com os meninos, se fosse preciso morria lá com eles. Era o que eu fazia. Era incapaz de abandonar aquelas pobres crianças”.

1 comentário:

J disse...

Foi justo. Ficaram cá os irresponsáveis.